* Por Ketty Valencio, proprietária da Livraria Africanidades em São Paulo/SP
Como quase a maioria da população brasileira, o meu embarque no mundo da literatura iniciou-se com os homens brancos e também por outros que foram embranquecidos pelo tempo. Com uma leitura obrigatória escolar, de escritos que deturpavam a história dos povos originários, ou seja, da população indígena e negra. Além da maioria das vezes estes textos possuírem um conteúdo sexista e racista, com demarcações de papéis e/ou lugares destinados para a subalternidade de mulheres, principalmente das mulheres negras.
No entanto neste mesmo período, estas obras não faziam sentido para a minha vida, eram apenas ruídos, uma música descompassada ou metaforicamente quase palavras de um idioma desconhecido, assim o abismo se abriu e o distanciamento chegou.
Com a invisibilidade e o apagamento histórico, que são algumas das perversidades do racismo, tive tardiamente o privilégio de conhecer algumas escritoras através de suas memórias e tentativas de fala. Vozes negras que me acolheram, fizeram entender a minha importância e também possibilitaram a descoberta da minha escrita. Logo tudo voltou ao seu devido lugar aqui dentro de mim, assim eu encontrei a existência e a resistência de diversas autoras negras. Elas para mim eram mulheres muito parecidas com as mulheres que eu conhecia e principalmente elas eram como eu.
Dessa forma quero compartilhar alguns nomes de mulheres autoras que me salvaram e que fazem parte da minha vida ontem, hoje e sempre.
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Alice Walker – Nascida em Condado de Putnam (Geórgia/EUA), em 09 de fevereiro de 1944. É autora, poeta e ativista feminista.
Em sua obra, Walker retrata a vida da mulher afro-americana. Ela descreve vivamente o sexismo, o racismo e a pobreza que fazem da vida uma batalha.
Angela Davis – Nascida em Birmigham (Alabama/EUA), em 26 de janeiro de 1944. É autora, filósofa, professora e ativista feminista e do movimento negro.
Em sua obra, Davis retrata a perversidade do racismo, sexismo, a promoção da equidade de gênero e a reforma das prisões (crítica ao encarceramento em massa).
bell hooks – Gloria Jean Watkins mais conhecida pelo pseudônimo bell hooks (escrito em letras minúsculas). Nascida em Hopkinsville (Kentucky/EUA) em 25 de setembro de 1952. Usa o nome de sua bisavó materna, pois ela decidiu não capitalizar seu nome verdadeiro, a fim de remover o foco dela como pessoa e colocá-lo apenas em sua escrita.
É autora, teórica feminista, crítica, professora e ativista.
Seus livros analisam a função de raça e gênero na cultura de hoje, também a promoção da descolonização da educação e a valorização da autoestima, autocuidado da população negra, principalmente entre as mulheres e meninas negras.
Carolina Maria de Jesus – Nascida em Sacramento/MG, em 14 de março de 1914 e faleceu em 13 de fevereiro de 1977. Foi autora, compositora e poeta.
Em sua obra, Carolina trás uma escrita combativa e íntima que retrata a desigualdade social, o racismo e suas mazelas.
Conceição Evaristo – Nascida em Belo Horizonte/MG, em 29 de dezembro de 1946. É autora, ativista e estreou na literatura em 1990.
Possui nos seus textos a escrevivência, isso quer dizer segunda a autora, “a escrita que nasce do cotidiano, das lembranças, da experiência de vida da própria autora e do seu povo”. Em cada palavra descrita nas suas narrativas encontrará sensibilidade e muita emoção, em um universo oriundo feminino, preto e mineiro.
Edwidge Danticat – Nascida em Porto Príncipe/Haiti, em 19 de janeiro de 1969. É autora e atualmente mora nos E.U.A.
Seus escritos narram às vidas dos cidadãos haitianos e criando representações vívidas e inflexíveis da injustiça.
Esmeralda Ribeiro – Nascida em São Paulo, em 24 de outubro de 1958. É autora, poeta, ativista, jornalista, uma das coordenadoras da editora Quilombhoje.
Sua obra possui o resgate da cultura das tradições afro-brasileiras e também o protagonismo da mulher negra.
Geni Guimarães – Nascida em São Manuel-SP (na Fazenda Villas-Boas), em 08 de setembro de 1947. É autora e poeta.
Sua escrita é carregada de sensibilidade, afirmação identitária e afrodescendência, assim como sua vida pessoal, repleta de protestos e ativismo.
Maria Firmina dos Reis – Nasceu na Ilha de São Luís, no Maranhão, no dia 11 de março de 1822 e faleceu em 11 de novembro de 1917. Foi autora, poeta e compositora, considerada a primeira romancista brasileira. Seu primeiro livro “Úrsula” foi uma grande ferramenta de crítica à escravidão por meio da humanização de personagens escravizados.
Miriam Alves – Nasceu em São Paulo em 1952. É autora, poeta, dramaturga, professora e ativista. Começou a escrever aos onze anos.
Sua obra valoriza a existência das mulheres negras, além de estar recheada da sua ancestralidade negra e africana.