Relato de uma moradora do Complexo de Favelas da Maré-RJ sobre a atuação genocida do Estado em mais uma operação policial

RELATO | Relato de uma moradora do Complexo de Favelas da #Maré – RJ sobre a atuação genocida do Estado em mais uma operação da Polícia Civil – 19.06.17

Hoje, mais uma vez, tive o meu trabalho interrompido.
Hoje, mais uma vez, as crianças foram liberadas das suas escolas ao som dos tiroteios.
Hoje, mais uma vez, as crianças que não saíram da escola ficaram sitiadas dentro dela, jogadas no chão, tentando se proteger.
Hoje, mais uma vez, precisei encarar os tiros pra tirar as crianças e seus pais da rua.
Hoje, mais uma vez, vi pessoas correndo atrás de abrigos.
Hoje, mais uma vez, vi o blindado da polícia dando tiros aleatórios em direção de pessoas que tentavam se proteger.
Hoje, mais uma vez, um tiro zuniu os meus ouvidos passando próximo a mim.

Hoje foi mais um dia comum aqui.

Uma escola de Ensino Fundamental pegou fogo hoje na Maré após um curto circuito na instalação de um ar condicionado. Ela fica localizada onde chamamos de “divisa”. Os bombeiros vieram para realizar o seu trabalho e aí tudo começou; no total, segundo relatos, tivemos 4 caveirões circulando a favela. As consequências são as de sempre, nenhuma novidade. Todas as atividades locais paralizadas, medo, desespero, casas alvejadas, pessoas baleadas. O motivo dessa ação da polícia? Desconhecemos. Não foi operação, não foi guerra às drogas, não foi caça a criminosos. Não houveram justificativas. Nada novo sob o comando desse Estado assassino.

Repito o que digo sempre: só um favelado sabe as marcas que nos acompanham durante a vida inteira.

“Servir e proteger” é o caralho.

A.C.A.B