ENTREVISTA PARA A AGÊNCIA DE NOTÍCIAS ANARQUISTAS

“A programação deste ano está com mais de 30 filmes”
 
[Entrevista com xs organizadorxs do Festival do Filme Anarquista e Punk de São Paulo. A 2ª edição da mostra acontece de 13 a 15 de dezembro, no Centro Anarquista Ação Direta, na capital.]
 
Agência de Notícias Anarquistas > O que a levou inicialmente a ter a ideia para organizar este tipo de Festival?
 
Resposta < O uso do audiovisual como ferramenta entre companheirxs punks e anarquistas tem crescido muito nos últimos anos, tanto pelo barateamento de equipamentos, quanto pela importância que se tem dado cada vez mais a esse meio como uma forma de expressão artística/cultural/política, disseminação de ideias, divulgação de lutas e questões sociais, e por aí vai. Aqui em São Paulo não tem sido diferente, e nos últimos anos estivemos nos envolvendo em produções desse tipo, fazendo documentários, curtas, videoclipes, cineclubes, sessões de filme-debate, etc. Um dos pontos favoráveis para iniciarmos esse trabalho também foi ter contato com diversos grupos e pessoas que produzem materiais audiovisuais, e, ao mesmo tempo, perceber a falta de espaço para esses filmes por conta dos temas explorados ou simplesmente pelo baixo custo em suas produções. Então a ideia de organizar o Festival aqui foi uma junção de todos esses fatores, unidos ainda com a inspiração em festivais de filme anarquista que acontecem em outras partes do mundo.
 
ANA > E qual foi o balanço da primeira edição do Festival, no ano passado? Foi boa a aderência de público?
 
Resposta < A gente ficou muito contente com a primeira edição, tanto pela quantidade de inscrições, quanto pela quantidade de pessoas presentes e apoiadorxs. A relação com xs companheirxs do Centro Anarquista Ação Direta (CAAD), que cederam o espaço para o evento, também foi de muito apoio, confiança e autonomia, o que criou um clima muito bom para seguir adiante. Tínhamos uma preocupação grande com a questão dos horários para que desse tempo de passar tantos filmes em apenas três dias. Nesse sentido deu tudo muito certo também, com tudo começando e terminando como planejado.
 
O que as vezes se tornou ruim foi que a existência de duas salas de projeção simultânea fazia com que em alguns momentos as pessoas ficassem “divididas” sobre qual filme ver, e assim algumas sessões foram muito lotadas em uma sala, e esvaziadas na outra. A chuva atrapalhou um pouco em alguns momentos, mas nossa avaliação geral foi bem positiva e saímos daqueles três dias com muito ânimo para mais edições do Festival.
 
ANA > E qual é a grande característica do Festival deste ano?
 
Resposta < O Festival deste ano segue o mesmo caminho que iniciamos no ano passado, com a proposta de manter sua realização anualmente. Uma novidade este ano são as sessões temáticas, que reúnem curtas e longas com temas próximos em uma única sessão. Então vamos ter uma sessão temática sobre questão indígena, outra sobre feminismo negro e combate à lesbofobia, outra sobre as manifestações atuais no Brasil, e assim por diante.
 
ANA > Que filmes vocês destacariam nesta edição do Festival?
 
Resposta < De filmes inéditos, este ano vamos fazer a estreia no Brasil do documentário “4F – Nem Esquecimento, Nem Perdão”, que saiu recentemente na Espanha e fala de uma forma bem profunda deste caso de montagem policial que ficou conhecido como 4F. É um documentário muito denso e que trás vários aspectos da política estatal/policial de criminalização do protesto social que tem ocorrido no mundo inteiro.
 
Também vai estrear, durante uma sessão de filme-debate sobre as atuais manifestações no Brasil, o curta “Anarcovândalos em Townsville”, uma sátira a determinados aspectos deste período, produzido por companheirxs da Biblioteca Terra Livre.
 
Outra produção recente é o documentário “Squat Pantano Revida – O Filme”, que fala um pouco das experiências, vivências e histórias do squat Pantano Revida, situado em Aracruz (ES), que resistiu durante quatro anos com muitas atividades e pessoas envolvidas, e sofreu reintegração de posse em agosto deste ano.
 
Também recebemos documentários interessantes sobre as cenas punks e fanzineiras em Tucumán/Argentina, na Colômbia, e outras produções de companheirxs de localidades próximas.
 
Bom, a programação deste ano está com mais de 30 filmes, e acho que cada um tem diversas coisas que poderíamos destacar!
 
ANA > Como é o processo de seleção dos filmes? É complicado encontrar produções inéditas e “marcadamente” libertárias para passar no Festival?
 
Resposta < Nestas duas edições do Festival abrimos inscrições alguns meses antes para que as pessoas e grupos interessados pudessem enviar suas produções – que poderiam ter temáticas e gêneros diversos, desde que relacionados de alguma forma com as tantas questões libertárias e reivindicações das lutas sociais a que historicamente o anarquismo esteve ligado, e também à cultura punk e suas múltiplas expressões. Desde a primeira edição ficamos surpresxs e muito contentes com a quantidade enorme de inscrições vindas de diversas partes, principalmente do Brasil e América Latina, mas também outros lugares do mundo. Isso nos fez conhecer diversos projetos libertários de produção audiovisual com os quais não tínhamos contato antes, o que foi muito motivador. A quantidade de inscrições superou nossas expectativas, e para que pudéssemos ao máximo incluir as produções de todxs xs proponentes, estruturamos o Festival para que tivesse três dias de duração, com duas salas de exibição simultâneas. Ainda incluímos alguns documentários recentes que consideramos interessantes, procurando traduzir e legendar estes filmes para também fazer lançamentos e estreias durante o evento.
 
No decorrer deste ano, um novo período de inscrições e o que foi interessante é que a maior parte dxs proponentes que irão exibir filmes nesta edição não havia entrado em contato no ano passado, o que faz com que o Festival não se restrinja a apenas alguns grupos produtores de vídeo. E mesmo com o fim do prazo de inscrição, continuaram chegando e-mails com novos filmes, mesmo agora no início de dezembro – o que já nos dá ideias para a programação do ano que vem.
 
Enfim, para nossa surpresa, ao invés de nos depararmos com dificuldades para encontrar produções audiovisuais libertárias recentes, demos de cara com o crescente uso dessa ferramenta por companheirxs do mundo todo como meio de divulgação da luta e propagação de ideias e questionamentos, e, assim, com uma grande quantidade de produções que a cada ano vão se renovando.
 
ANA > Quais são as atrações além do cinema no Festival?
 
Resposta < Uma das marcas do Festival é justamente tentar priorizar a existência de debates temáticos junto a grade de atividades, também com frequência dxs produtorxs dos próprios filmes exibidos, e companheirxs libertárixs que possam contribuir de alguma forma com as discussões e compartilhar experiências. Além disso temos buscado reunir exposições de fotografias, desenhos e cartazes, realização de oficinas, sarau poético, e esse ano também teremos uma apresentação musical e outra teatral. Também sempre nos preocupamos em manter no local espaço para exposição de livros e materiais anarquistas, comida vegana e outras produções.
 
ANA > É uma correria organizar o Festival?
 
Resposta < Entre o processo de abrir inscrições até o dia do evento passamos semanas e semanas em contato com xs grupos, legendando e traduzindo, organizando a programação, produzindo material de divulgação e catálogo dos filmes, e por aí vai. Esse ano além da Imprensa Marginal/Anarco-Filmes e da Do Morro Produções também temos a ajuda de mais companheirxs. É muita correria, mas vale a pena.
 
Confira a programação completa do Festival aqui:
 
 
agência de notícias anarquistas-ana
 
minhas mãos te olham
estranha fotografia
onde meus olhos te tocam
 
Lisa Carducci