Um pouco sobre a história do ACR – Anarquistas Contra o Racismo

“CONSTRUINDO UMA LUTA – A.C.R”

Anarcopunx contra o Racismo!

Criado no final de 1992, começo de 1993, o Projeto A.C.R. foi idealizado e hoje é tocado por anarquistas e em maior número por militantes do MAP (Movimento Anarco-Punk), embora esteja aberto a participação de tod@s.
O movimento anarco-punk já tinha a luta antifascista e anti-racista como uma das bandeiras de luta antes da idealização do A.C.R., cada localidade onde havia o MAP, já vinha desenvolvendo um trabalho dentro da luta antifascista e anti-racista, porém as dificuldades existentes na época eram este trabalho era desenvolvido de forma superficial, completamente desconectado dos movimentos sociais que também desenvolviam a luta anti-racista e sem contato com as “minorias” étnicas e de gênero atingidas pelo preconceito, discriminação e pelo racismo.
Mesmo entre os núcleos do MAP o trabalho anti-racista carecia de estruturação orgânica, coesão e de intercâmbio internúcleos. A partir desta análise, alguns indivíduos de São Paulo que não participavam necessariamente dos mesmos coletivos iniciaram uma articulação local que transformou-se no que hoje é o Projeto A.C.R.
Desde o início já tínhamos claro nossa opção por organizar um projeto, um trabalho em conjunto, uma idéia que tivesse fácil circulação entre os coletivos e entre os vários indivíduos. O primeiro panfleto surgiu quando ia ser realizado um pedágio para arrecadar fundos para realizarmos algumas atividades. Este panfleto refletia nosso repúdio ao racismo cotidiano e em especial as ações cometidas no ano anterior pelos “white-powers”, e foi assinado como “Anarquistas na Rua Contra o Racismo” (em março de 1993).
No mês seguinte (abril de 93), um adolescente negro de 15 anos foi morto pelo grupo nazi-fascista “carecas do ABC”, na região de São Bernardo do Campo na grande São Paulo.
Os movimentos sociais anti-racistas, que já haviam se reunido em outubro de 1992, em repúdio ao ataque dos “white powers” à Rádio Atual (de programação dirigida a comunidade nordestina em São Paulo) e em protesto ao programa “Documento Especial” que deu voz aos neonazistas de São Paulo, voltam a se reunir em abril de 1993 som um clima de indignação e revolta face ao assassinato deste adolescente negro. Esboça-se na cidade de São Paulo a criação de um amplo fórum multiétnico, supra-político e multi-cultural contra a ação dos neonazistas, nós enquanto anarco-punks e com o embrionários panfleto participamos das discussões.
Vários segmentos da sociedade estavam ali representados: movimentos negros, mulheres, nordestinos, organizações judaicas, grupos de pesquisa, movimentos populares e sociais entre outros.
A reunião deu-se no Conselho Participativo da Comunidade Negra de São Paulo e marcou para nós o início de nossos trabalhos a nível de A.C.R. e o lançamento da pedra fundamental para direcionarmos nosso trabalho para uma inserção social enquanto militantes anarquistas/anarco-punks na luta contra o racismo, preconceito e a discriminação em geral.
O resultado dessa reunião foi a realização de uma grande passeata com mais de 4 mil pessoas no dia 13 de maio de 1993. Panfletos e carros de som repudiavam a ação dos neonazistas, clamavam por justiça e alguns juravam vingança.
Passada a indignação inicial, os meios de comunicação deixaram de divulgar o caso, nenhum neonazista foi preso, a dimensão inicial do fórum anti-racista foi esvaziado e quase tudo voltava ao normal.
Nós dissemos quase tudo…
… Dias após a passeata do dia 13 de maio, um militante nosso foi atacado e violentamente espancado por neonazistas do grupo “carecas do ABC”, tomou vários pontos na testa, alguns dentes a menos e um pequeno afundamento facial.
Da nossa indignação face a mais esta agressão fascista, nasceu a convicção da necessidade de nos organizarmos enquanto anarquistas, anarco-punks e antifascistas e de nos articularmos com outros segmentos da sociedade, também alvos da violência neo-nazi-fascista.
Somente assim poderemos fazer frente a crescente ação de grupos de extrema direita e também desenvolvermos uma ação efetiva contra o racismo e outras formas de discriminação cotidianas.
Sabíamos que o Projeto A.C.R. e o MAP não poderia limitar seu combate a grupo skinheads, que apesar de violentos e homicidas em potencial, são apenas massa de manobra de setores ultra-reacionários, conservadores e nazi-fascistas da sociedade, nem entramos numa aspiral de violência com eles, pois estaríamos no campo deles, uma vez que a apologia e uso da violência, o culto a força física e a intolerância extremada são algumas das principais características dos skinheads.
Ao invés de nós entrarmos no campo da violência física com os fascistas, nosso projeto buscou e busca construir alianças com vários setores sociais para em conjunto traçarmos estratégias eficientes para coibir a ação da extrema direita e combater as manifestações cotidianas de racismo na nossa sociedade.
Todas estas constatações a partir de São Paulo encontraram terreno fértil em vários núcleos do MAP pelo Brasil, núcleos estes que posteriormente vieram a fazer parte do projeto A.C.R., no caso Santos, Rio de Janeiro e Curitiba.
A ampliação do Projeto A.C.R. a outras localidades foi um fato determinante para torná-lo mais coeso e produtivo, uma vez que o crescimento do nosso projeto sempre foi mais qualitativo do que quantitativo.
Os núcleos existentes atualmente Criciúma, Curitiba, Rio de Janeiro, Santos, São Paulo (e um núcleo colaborador em Cruzeiro – SP) buscam desenvolver trabalhos com as comunidades e movimentos sociais de suas regiões dentro de uma linha geral de conduta aprovada de forma horizontal por todos os núcleos.
Trabalhos estes que buscam resgatar a capacidade de auto-organização da sociedade despertando a população e os movimentos sociais anti-discriminatórios, para a necessidade de criarmos instâncias de luta contra todas as formas de preconceito, racismo e discriminação.
Defendemos com veemência a criação de fóruns multi-étnicos, supra-políticos-religiosos e multiculturais como forma dos vários segmentos atingidos pela intolerância racial da sociedade, reagirem e construírem instâncias sociais combativas e atuantes onde a democracia étnica seja um fato e não um engodo.
Buscamos com nosso trabalho, enquanto projetistas, um permanente aperfeiçoamento dos métodos de ação tornando mais visível, coeso e eficiente nossa resistência e nossa batalha.
Batalha esta que desenvolvemos de forma apaixonada, buscando superar assim uma a uma as adversidades que encontramos pelo caminho, e que não são poucas.
Batalha esta que travamos com nossos punhos cerrados, com nossa bandeira negra hasteada e com a disposição de quilombolas com anabolas que somos.
SOMOS O A.C.R.!!! SOMOS O M.A.P.!!! SOMOS OS ANARQUISTAS CONTRA O RACISMO!!

Setembro de 1999.