O sim do silêncio: a invenção da anarquia em John Cage.

Por Gustavo Simões

No início dos anos 1960, o músico libertário estadunidense John Cage
entregou-se à invenção de escritos liberadores. Entretanto, estes escritos de
Cage – reconhecido por suas invenções e performances liberadoras da música
desde a década de 1940 – ainda hoje são relegados em detrimento de sua obra
musical revolucionária. Os escritos de Cage irrompem na década de 1960, com
Silence (1961) e A year from Monday (1967), seguidos, na década de 1970, por M
(1973) e Empty Words (1979). O ocaso desse percurso literário é precisamente
com Anarchy, escrito em 1988, publicado postumamente, em 2001. Ignorados,
tanto por pesquisadores musicais como por parte dos libertarismos, os livros de
Cage afirmam sua perspectiva política singular que atualiza, a partir dos anos
1950, o chamado anarquismo individualista estadunidense e as afirmações de
Henry David Thoreau. Somado às afirmações contundentes relacionadas,
sobretudo, à perspectiva de uma ecologia libertária e ao antimilitarismo, por
meio de seus escritos podemos ultrapassar os já reiterados laudos sobre a
importância de sua “obra” e acompanhar de perto os movimentos de sua vida
artista.
Esta pesquisa visa mapear os escritos liberadores de Cage, investigar as
singularidades de seu anarquismo, o interior do anarquismo estadunidense, os
efeitos das afirmações de Cage para a disrupção de resistências no presente.
Para além de uma pesquisa exaustiva sobre certos escritos, O sim do silêncio: a
invenção da anarquia em John Cage mira analisar, sob a perspectiva da ética e das
estéticas da existência afirmadas por Michel Foucault nos cursos no College de
France – situados entre 1982 e 1984 -, as transformações em Cage pelo seu
próprio percurso de trabalho. Da irrupção de Silence a Anarchy, essa pesquisa
pretende distanciar-se da vida de Cage como mera sucessão de invenções. Pelo
contrário, o objetivo é situar-se à espreita das descontinuidades, das
transformações em Cage pelo seu próprio percurso de existência.