Ações coletivas de apoio a sobreviventes e responsabilização de agressores por abusos e agressões machistas – relato #1

Este é o primeiro de muitos posts com relatos de outras partes do mundo sobre processos de responsabilização e formas de apoio à sobreviventes em casos de agressões e abusos machistas em movimentos sociais e espaços de militância. Nestes relatos encontraremos formas de agir e pensar estas questões que muitas vezes serão divergentes entre si; que podem não se encaixar em nosso contexto ou ser inviáveis; ou mesmo pontos de vista que discordamos em partes. Porém a ideia aqui é compartilhar as mais diversas experiências nesse sentido, colocá-las em debate umas com as outras, pra que possamos refletir sobre nossa realidade e como podemos intervir e agir coletivamente no combate a existência de agressões machistas.

Este primeiro relato se passou na Filadélfia/EUA. Em 2004, durante o festival Pointless Fest, três mulheres foram estupradas, e imediatamente um grupo de pessoas se reuniu para apoiar as sobreviventes, defender suas demandas e responsabilizar os agressores. Nessa ocasião, dois grupos locais se formaram para trabalhar as questões de abuso sexual, focados no apoio às sobreviventes e responsabilização de agressores. O festival do ano seguinte também foi alvo de diversas preocupações para prevenção de possíveis abusos, o que gerou reflexões sobre formas práticas de tornar seguros ao máximo estes espaços.

O texto a seguir é um relato das mulheres que se envolveram neste processo de apoio às sobreviventes, contando todo o desenrolar dos acontecimentos e as atitudes e preocupações coletivas. Os estupros ocorreram durante o Festival e havia o medo de que novos abusos pudessem acontecer, fazendo necessárias respostas imediatas. Assim, três ações foram levadas adiante a partir das vontades de cada uma das sobreviventes, que reivindicaram diferentes coisas.

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Três Mulheres Estupradas no Pointless Fest

por Phillys Pissed, retirado do zine What Do We Do When? #1

Nós fomos ao Pointless Fest na Filadélfia em Agosto para dançar, reencontrar velhxs amigxs e compartilhar as ideias e energia que resultam dos grandes encontros de radicais e punks. Em nossa incrível e desenvolvida cena, às vezes é fácil esquecer o quanto ainda devemos fazer para criar uma comunidade amorosa. E é esmagador encarar o medo de que talvez nunca possamos ser fortes o suficiente para transformar esta cena em um local sustentável e seguro onde estejamos confortáveis e livres das sombras da cultura capitalista, racista, anti-homossexuais, anti-mulheres, anti-trans, anti-vida/amor/diversão.

No Pointless Fest, nossas ilusões de apoio e segurança em nossa comunidade desabaram quando Jacob Michael Wiese (Jake) estuprou duas mulheres e Timothy W. (Tim) estuprou outra mulher.

A seguir está um relato do grupo de mulheres envolvidas nas consequências destes estupros. Nós escrevemos o artigo como forma de apoio às sobreviventes, para acabar com rumores, e para somar ao diálogo das várias respostas ao estupro.

Três Mulheres Estupradas, Dois Estupradores

As três mulheres desejaram manter suas identidades anônimas. Nós criamos nomes fictícios para cada uma delas para evitar confusões. Por favor, respeite seus desejos e se refira a estas mulheres por estes nomes daqui por diante.

Na sexta-feira (13 de agosto), após um dia de boa música seguida por bebidas no parque com mais música, duas mulheres foram ao quarto de hotel de Jake e Tim para sair com seus novos amigos. A confiança imediata supostamente encontrada em nossa cena foi violada quando as duas mulheres foram estupradas.

 Janice foi estuprada por Jake na sexta-feira a noite (13 de agosto)

Xena foi estuprada por Tim na sexta-feira a noite (13 de agosto)

 No sábado (14 de agosto), enquanto centenas de nós nos reuníamos rindo, bebendo, dançando e agitando no auge das celebrações do Pointless Fest, uma mulher foi estuprada por Jake.

 Rowanda foi estuprada por Jake no sábado a noite (14 de agosto)

 Um Estupro No Show

Um pequeno grupo de mulheres e homens da comunidade da Filadélfia tomou conhecimento do estupro no sábado a noite (14 de agosto) logo após ter ocorrido. Haviam emoções misturadas e um ambiente caótico para tentar processar a situação. Embora não soubéssemos os desejos das sobreviventes, havia uma movimentação para procurar o estuprador e feri-lo fisicamente. Não queríamos chegar em um inocente que se encaixasse na mesma descrição de Jake. Soubemos que ele tinha companheiros de viagem e que todos eles planejavam estar na festa do dia seguinte, então combinamos um encontro mais cedo para encontrar a melhor resposta.

Apesar de, pensando agora, termos sido felizes em não pular para uma decisão precipitada, o medo de que Jake pudesse atacar outra mulher naquela mesma noite nos deixou sem sono.

 Reunião de Preparação

No sábado a noite e no dia seguinte, reunimos o máximo possível de informações sobre Jake. Nós tínhamos duas fontes confiáveis que poderiam identifica-lo com certeza. Soubemos que ele era de Minneapolis e pretendia voltar para casa logo após o festival.

Na hora da reunião, uma segunda mulher se apresentou como tendo sido estuprada por Jake. Janice foi estuprada por Jake na sexta-feira a noite em um hotel em Nova Jersey. Uma sobrevivente tinha uma foto digital de Jake antes dos abusos. Isto confirmou que o mesmo homem havia abusado tanto de Janice quanto de Rowanda.

A Reunião de Planejamento

Na reunião do sábado de manhã (15 de agosto) nós discutimos sobre como apoiar da melhor forma as sobreviventes. Também deliberamos como responder à ameaça imediata da presença de Jake no festival. Queríamos que ele soubesse que o ato de estupro contra duas de nossas irmãs não seria levada com leveza, e que seria tratada como a atrocidade abominável que é.

Nós reagimos com um senso de urgência, com um entendimento de que se Jake saísse da cidade sem qualquer interação provavelmente perpetuasse estes comportamentos. Um diálogo produtivo com ele expressando nossa aversão, raiva e desapontamento não seria possível. Não poderíamos assegurar que ele tivesse aconselhamento ou passasse por passos de reabilitação apropriados em um tempo tão limitado. E sabíamos que bater nele e/ou expulsá-lo da Filadélfia só o empurraria para outros lugares para cometer o mesmo ato.

Entretanto, víamos ele como uma ameaça à nossa comunidade e às outras. Sentimos a responsabilidade de mostrar a ele uma resposta imediata às suas ações como um primeiro passo de um processo de reabilitação. Decidimos que a única via aberta para nós seria um confronto direto e físico com Jake, e decidimos também que o confronto seria protagonizado apenas por mulheres. Queríamos bater nele e pegar seu documento para identificá-lo para as pessoas em sua cidade para um acompanhamento. Pretendemos entrar em contato com as pessoas de Minneapolis para definir um plano de longo prazo para tornar Jake responsável por suas ações, por meio de um processo de cura e crescimento com o qual ele esperançosamente nunca mais violasse alguém novamente.

Rowanda decidiu fazer uma denúncia contra Jake. Nós decidimos que a polícia seria chamada depois que a comunidade tivesse lidado com ele. Naquele momento, Janice estava indecisa se queria prestar queixa na polícia.

Após a reunião, mais uma sobrevivente, Xena, se apresentou. Tim, o companheiro de viagem de Jake, estuprou ela na sexta-feira a noite no quarto do hotel. Como esta informação foi descoberta após a reunião e não houve uma discussão adequada com Xena, não pudemos ter um direcionamento de ação para Tim até um pouco mais tarde naquele mesmo dia.

O Confronto no Festival

O confronto ocorreu no domingo no Pointless Fest. Nos reunimos enquanto grupo de mulheres para mostrar a Jake um pouco da raiva que sentíamos por suas ações e para responsabilizá-lo pela dor que causou. Nos reunimos para mostrar a ele que como irmãs, permanecíamos juntas. Estávamos prontas para pegar ele. Embora não neguemos a emoção deste ato, não duvide que cada movimento nosso foi calculado e planejado minuciosamente.

Tivemos apoio total da organização do Pointless Fest e trabalhamos em colaboração com a segurança do festival para assegurar um local fora do evento para confrontar Jake física e verbalmente. Nossos aliados homens nos ajudaram a manter distantes outros homens que quisessem espontaneamente participar, e a manter a multidão informada da natureza da situação. Acreditamos que era importante que Jake visse rostos, vozes e corpos femininos em uma posição de empoderamento e força em uma interação com um homem que despojou a força e o empoderamento das mulheres.

Infelizmente, assim que Jake apareceu e nós nos reunimos, fomos informadas que alguém já havia chamado a polícia. Nós supomos que estavam agindo pelo desejo de fazer cumprir o desejo das sobreviventes de que ele fosse preso e pela preocupação com a repercussão legal que poderíamos enfrentar. Nenhuma das mulheres presentes queria que a policia fosse chamada. Para nossa própria segurança. Idealmente, a policia deveria ser chamada depois que fosse feita a pretendida justiça da rua.

Uma de nós falou com Jake sozinha pouco antes que fosse cercado. Ele foi questionado se sabia por quê ele estava sendo confrontado. Ele disse que sabia. Ele foi questionado se estava consciente de que havia estuprado duas mulheres no Festival. Ele disse que não estuprou ninguém e que tinha uma explicação. Ele teve uma chance de dizer o que quisesse, mas simples e repetidamente negou ter feito qualquer coisa errada.

Ele tremeu de medo quando puxamos ele para o beco. Tivemos que arrastar ele pelo pescoço e braços enquanto ele tentava nos empurrar pra longe dele. Estávamos enfurecidas e enojadas. Nós gritávamos que ele sabia que tinha estuprado duas mulheres. Exigimos saber com quantas outras mulheres ele já havia feito isso. Foi uma das cenas mais intensas de nossas vidas. Muitas de nós desejamos confrontar nossos agressores em um grupo de mulheres fortes, mas não tivemos a oportunidade devido à falta de apoio.

Logo que batemos nele no local planejado para o confronto, tínhamos dado apenas alguns golpes quando ele nos pediu que o deixássemos falar novamente. Não havia nada que ele pudesse dizer para negar dois casos de estupro tão evidentes. Contra o nosso melhor julgamento, deixamos que falasse, mas ele não tinha nada para dizer. Não existia nenhuma explicação razoável para o que ele fez e não deveríamos ter perdido tempo. Ele gritou para as pessoas que olhavam pedindo que interferissem. Nós começamos a bater novamente. Infelizmente, a polícia apareceu e prendeu ele antes que tivéssemos terminado.

Jake esperou na viatura enquanto os policiais anotavam nomes e pequenos depoimentos das testemunhas envolvidas no caso de Rowanda. Neste momento, Janice chegou no local e decidiu prestar depoimento para a policia. Na mesma hora, dois amigos de Jake vieram conversar com algumas de nós. Um deles era Tim, o estuprador de Xena da sexta a noite. Apenas algumas de nós sabiam que ele era o homem responsável pelo estupro porque recebemos esta informação poucas horas antes. Ele não sabia que qualquer uma de nós tinha conhecimento de suas ações. Falamos com ele por cerca de 15 minutos enquanto defendia Jake, e como ficou claro, suas próprias ações. Ele disse que não era possível que Jake tivesse estuprado duas mulheres, que Jake estava bêbado nas duas noites e que tinha certeza que era apenas uma experiência sexual lamentável.

Algumas de nós foram levadas para a delegacia para dar um relato completo como testemunhas no caso de Rowanda. Neste momento as três sobreviventes haviam sido submetidas a exames de corpo delito no Temple University Hospital.

Jake foi levado sob custódia e acusado de estupro. Foi mantido na principal prisão masculina da Filadélfia, CFCF, com uma fiança de 1 milhão de dólares.

Enquanto algumas de nós estavam na delegacia, outras permaneceram no show para prosseguir com Tim e as pessoas que participavam do Festival. Fomos a uma sala disponibilizada pela organização do Pointless Fest para discutir a situação de Tim. Soubemos que Xena não queria que fosse fisicamente agredido ou preso. Ela queria que falássemos com ele numa tentativa de que percebesse a horrível experiência que a fez passar. Nesta sala também escrevemos um discurso, dividido entre cinco mulheres, para ler durante a apresentação da banda Signal Lost para explicar o que estava acontecendo e conter os rumores que estavam correndo como um incêndio. Queríamos que as pessoas soubessem que aquilo não era uma “caça às bruxas” baseada em boatos e especulações. Estávamos bem informadas quanto aos detalhes e severidade da situação pelas sobreviventes e tivemos uma decisão coletiva para agir de acordo. Nós, no grupo de mulheres, tomamos a decisão de confrontar e ferir Jake fisicamente naquele momento. Na realidade, desejávamos fazer mais.

Em sua maioria, a multidão no Pointless Fest foi atenciosa e apoiadora quando informamos os acontecimentos recentes. Após termos feito o discurso fomos falar com Tim, que estava visivelmente abalado. Levamos ele a uma pequena distância do festival com o apoio da segurança do Pointless Fest, com o acordo aberto de que não tocaríamos nele. Isto foi feito em respeito aos desejos de Xena. Nós falamos a ele que havia estuprado alguém, que sabíamos disso, e que ele devia se responsabilizar por suas ações e procurar ajuda. Contamos a ele que a única razão pela qual não iríamos bater nele era o fato de que Xena não desejava isso. Quando terminamos de detalhar a dor que ele causou nela, ele demonstrou um desejo egoísta de proteger sua vida social. Ele concordou e compreendeu que algo ruim aconteceu, mas negou o estupro. Ele nos perguntou repetidamente se ele poderia voltar ao Pointless Fest no ano seguinte, e queria saber se seria aceito novamente na Filadelfia. Em nenhum momento demonstrou qualquer preocupação com Xena. Em nenhum momento reconheceu a gravidade da situação para além de suas próprias necessidades. O segurança disse a Tim que a última de suas preocupações deveria ser voltar à Filadélfia. Ele falou para Tim que procurasse ajuda porque se não o fizesse e se as mulheres não quisessem pegá-lo, então ele pegaria. Dissemos a ele que nós e um grupo de Minneapolis tinham interesse em fazer um acompanhamento com ele, e que iriam entrar em contato em breve. Pedimos que deixasse o festival imediatamente.

 As Reivindicações das Sobreviventes:

Os nomes das sobreviventes não serão revelados. Por razões pessoais, Rowanda não deseja mais ser abordada sobre este assunto. Todas as perguntas, oferecimento de apoio ou comunicações similares para Janice ou Xena serão repassadas de nós para elas. Nosso contato está listado no final deste artigo e responderemos à correspondência madura e honesta. Qualquer informação de identificação das sobreviventes divulgadas por Jake, Tim, ou outra pessoa não serão toleradas.

Rowanda deseja que Jake lide com a justiça criminal. Janice não está certa se quer passar por mais um trauma envolvendo prestar queixas contra Jake. As demandas para Tim são de que ele se reabilite por meio do apoio das comunidades radicais, assuma o que fez e não entre em contato com Xena ou amigxs e familiares. Isto está sendo feito com o maravilhoso apoio de um coletivo de Minneapolis.

 Acompanhamento

Muitas reuniões foram e serão feitas entre o grupo de mulheres da Filadélfia e há um novo grupo de homens formado para dar apoio às sobreviventes e levar adiante a responsabilização dos agressores. Um coletivo de Minneapolis se aproximou de nosso grupo imediatamente e assim puderam começar o mesmo processo em Minneapolis. Se organizaram em conjunto conosco para fazer valer as demandas das sobreviventes. O grupo de Minneapolis irá divulgar declarações sobre suas ações e progresso.

Nós conhecemos as três sobreviventes e estamos incrivelmente inspiradas por sua força ao lidar com estas circunstâncias repugnantes. A maior parte de nós já passou por situações similares e ficou emocionalmente destruída e debilitada em comparação com estas fortes mulheres.

Existem atualmente dois grupos de gênero trabalhando juntos na Filadélfia para apoiar Janice e Xena. Rowanda quis lidar com esta situação por si mesma e negou o apoio de nosso grupo. Nós reconhecemos que reações a esta situação variam e respeitamos seu pedido, desejando o melhor a ela. Esperamos dar mais passos para apoiar sobreviventes e reabilitar agressores como uma alternativa permanente ao complexo prisional industrial.

 Atualizações sobre Jake

Jake teve uma audiência na terça-feira 24 de agosto. No processo, sua fiança baixou porque não era mais considerado o risco de fuga. Seus pais contrataram um advogado e foram à Filadélfia para sua audiência. O juiz se convenceu de que sua família o apoiaria e retornaria novamente para seu julgamento preliminar. Ele foi solto do CFCF na quarta-feira, 25 de agosto. Seu primeiro julgamento está marcado para o meio de outubro.

 Atualizações sobre Tim

Tim concordou em se reunir com um comitê de 5 pessoas, definidas pelo coletivo de Minneapolis para ajudá-lo a se aconselhar e também duas pessoas mentoras. Alguns dias depois da reunião, sua mãe se envolveu no planejamento e sugeriu sua participação. Quando Tim se atrasou para a reunião o coletivo entrou em contato e ele disse que não iria e que não queria receber mais ligações sobre o assunto. Devido à algumas circunstâncias, ainda não estamos preparadas para divulgar o nome completo de Tim W.

 Motivação

A criação de sistemas de apoio e reabilitação são equivalentes a nossas metas como radicais. Todo o trabalho que fazemos em nossas comunidades e vidas para criar alternativas sustentáveis estão inter-relacionadas. Cada atividade criada em direção à mudança social, seja um selo DIY e espaços para shows, jardinagem urbana, ação direta ou serviço de comida grátis, é importante e demanda atenção e apoio de todas as pessoas de nossa cultura radical. Entretanto não podemos expressar incisivamente o suficiente nosso desapontamento com a falta de atenção real dada a questões como gênero, abuso sexual e orientação sexual. Para ter verdadeiramente uma comunidade radical que exista como um espaço seguro para todas as pessoas, é preciso estarmos juntxs nas questões de abuso sexual.

Desde que nosso pequeno grupo de mulheres Philly´s Pissed começou a lidar com as repercussões das ações de Jake e Tim em nossa comunidade, algumas de nós nos sentimos alienadas e desvalorizadas, pelo menos em parte do tempo. Algumas de nós se sentiram frustradas com a falta de urgência em nossa cena para responder às necessidades das sobreviventes e apoiar a reabilitação dos agressores. Nós entendemos que é complicado saber o que fazer, o que dizer, como ajudar; mas discutir isto, mesmo que apenas comunicando a confusão e estando perdidxs, são passos cruciais.

Algumas de nós também sentiram falta de apoio a nós mesmas e o que estamos passando. Sentimos que muitas pessoas em nossa comunidade não percebem que tentar trabalhar, processar, apoiar, e ajudar as mulheres e homens envolvidos nesta terrível situação também trás a tona para muitas de nós nossas próprias experiências com agressões. Nada sobre isto tem sido fácil para nenhuma pessoa envolvida – requer longos dias e noites que são levados por um infelizmente pequeno grupo de mulheres e homens, e toda uma vida de trabalho para sobreviventes e agressores. Ficou dolorosamente nítido que os diálogos e portas abertas de comunicação para lidar com estas situações não existem, mesmo em comunidades que se orgulham pela consciência e compreensão.

Como toda bagagem do sistema capitalista, hierárquico e opressivo que carregamos, iremos tratar e resolver estas questões do patriarcado. Iremos apreciar o apoio umas das outras, não importa o quão pequeno seja o começo, e usando a força uma das outras para construir o mundo que necessitamos. Vendo os homens na Filadélfia se organizarem com as metas expressas de apoiar sobreviventes, trabalhando com os agressores, e apoiando as mulheres da localidade, tem sido apreciado e inspirador.

O estupro nos fere de uma forma que não pode ser expressada com palavras. A enorme batalha que nós, como sobreviventes de estupro, têm de vencer para sermos capazes de simplesmente beijar quem queremos beijar, para dormir com quem queremos dormir, de formas saudáveis, positivas, é assustadoramente difusa em nossas vidas. As formas com que reagimos ao abuso sexual, enquanto comunidade, precisam crescer junto com as pessoas que sobrevivem ao estupro. Precisamos ser capazes de confiar que as pessoas ao nosso redor irão apoiar nosso processo de cura. Precisamos confiar que não seremos alvo de fofocas de forma vulgar e patética se formos adiante. Precisamos ser capazes de confiar que nossas comunidades não nos colocarão no papel de testemunhas, nos desvalorizando enquanto parte desta comunidade. Precisamos confiar que abuso sexual e estupro de homens e pessoas trans serão levadas tão seriamente e com tanto apoio quanto o de mulheres. Precisamos estar juntas não apenas para dizer NÃO ao estupro, mas também para dizer SIM para lidar com tudo o que for necessário para construir um mundo onde possamos lidar com agressões, sofrimentos mentais, instabilidade, e processos de socialização em estupradores enquanto comunidades para apoiar sua reabilitação e mudança. Nós reivindicamos um mundo onde possamos superar mesmo os mais profundos aspectos de nosso mundo capitalista e crescer como indivíduos saudáveis em uma comunidade solidária.

NOSSO CONTATO: phillyspissed@safe-mail.net

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