por Cachorro Voador | Revista Fagulha #1, novembro de 2015
Não há como negar que nos últimos anos ficou muito mais fácil de se comunicar com um número cada vez maior de pessoas. Graças às redes sociais, como Twitter, Instagram, mas principalmente o Facebook, conseguimos mobilizar um número maior de pessoas e com maior rapidez para lutar contra injustiças e organizar protestos e ocupações do espaço público, mas a que custo?
Você pode não saber o que estava fazendo e dizendo há dois anos atrás, mas o Facebook lembra. Eles possuem possivelmente o maior banco de dados de informações pessoais do mundo. Se você usa a rede social, é bem provável que ela saiba mais sobre a sua vida e comportamento que você mesmo. Eles sabem quem é sua família, que pessoas são suas amigas, ou parceiras de trabalho, com quem você conversa, a que horas e de onde você acessa a internet, quais são seus hábitos de consumo, seus interesses e como eles mudaram ao longo do tempo, que sites você acessa, que petições assina, a que festas você foi. Eles têm gravada toda mensagem pública ou privada que você transmitiu através da rede social.
O Facebook não só possui um arquivo com todas essas suas informações pessoais, mas também controla o que você vê e o que não vê. Você provavelmente já percebeu que não vemos na “linha do tempo” do Facebook tudo que nossos contatos postam. Eles possuem um sistema que avalia e nos mostra somente aquilo que querem que vejamos. Mas quem você acha que deve decidir o que vemos, nós ou o Facebook? E quem garante que eles não estão usando ou não usarão, quando for conveniente, essa ferramenta para mostrar somente as histórias que beneficiam os seus interesses e ocultar as informações que os prejudicam?
Centenas de milhões de pessoas usam o Facebook, e o poder de escolher aquilo que nós vemos ou não pode ser capaz de destruir reputações, provocar linchamentos, influenciar uma eleição, derrubar um governante e manipular a opinião pública.
Ficou claro que o Facebook não apenas tem esse poder, como está disposto a usá-lo, quando em 2014 ficamos sabendo que eles conduziram um experimento em milhões de pessoas, sem seu consentimento, para analisar como aquilo que vemos na rede social influencia o nosso humor. Eles filtraram as publicações para que os usuários vissem só notícias positivas ou negativas e avaliaram como isso afetava as suas futuras postagens. Eles fizeram isso em milhões de usuários, sem avisá-los ou pedir sua autorização. Nos tornamos cobaias de um experimento de controle social.
Pra piorar tudo, cada vez mais, nossas comunicações via internet estão centralizadas no próprio Facebook. Antes utilizávamos uma variedade de ferramentas para nos comunicarmos pela internet: e-mail, mIRC, salas de chat na web, programas de mensagens instantâneas como ICQ, fóruns online, blogs, fotologs, etc. Hoje em dia está tudo no Facebook, e o risco de ter toda essa informação centralizada nas mãos de uma única corporação é gigante. Hoje, mais que nunca, informação é poder e ao cedermos toda nossa informação pessoal, social e profissional a uma única organização estamos concedendo a ela um poder sem precedentes. Mesmo que você acredite que o Facebook é uma empresa ética e não irá utilizar essas informações para fins duvidosos, todo o banco de dados dessa rede social pode ser facilmente acessado por governos, outras corporações e instituições.
Nem mesmo George Orwell quando escreveu sobre um futuro onde um governo controlava toda informação e tentava controlar até mesmo o pensamento dos cidadãos, imaginou que esse controle seria tão sutil e que as pessoas entregariam sua informações voluntariamente.
Se queremos um futuro livre de censura e de controle, temos que repensar nosso comportamento online. Existem alternativas, só precisamos tomar a decisão de começar a usá-las. Podemos começar tentando não concentrar toda nossa atividade online no Facebook, buscar informações fora dele, utilizarmos outras ferramentas para nos comunicarmos, para divulgar nossas atividades e movimentos. Quem não quer sair do Facebook neste momento pode ao menos pensar duas vezes nas informações que coloca lá, e tentar reduzir seu uso ao máximo, enquanto começa a adotar novas ferramentas e outras redes sociais, livres e colaborativas.
Chegamos a um ponto onde a informação que circula na rede, e a maneira como ela circula, está moldando nossas vidas fora da rede. Precisamos que nossas formas de comunicação reflitam o mundo no qual queremos viver.
Alternativas ao Facebook
Quer abandonar o Facebook mas ainda acha que redes sociais são úteis? Experimente uma das (ou todas) opções abaixo de redes mais seguras, não-comerciais e código aberto.
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WE – rede social especializada para a organização de coletivos e movimentos. Permite a criação de redes, grupos e comitês. Possui ferramentas que facilitam a construção colaborativa, a tomada de decisões e a distribuição de tarefas. http://we.riseup.net
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Diaspora – rede federada criada e mantida por uma comunidade de pessoas voluntárias onde qualquer um pode montar seu servidor (pod) e armazenar seus próprios dados, ou registrar-se em um das dezenas de servidores já existentes. No Brasil existem dois pods: diasporabr.com.br e diasporabrazil.org
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GNU Social – federada e livre, com uma funcionalidade se-melhante a do Twitter, porém com grupos, integração ao Facebook. Existem diversos servidores: gnusocial.no, quitter.se e quitter.es são alguns deles.
4.5