* Tráfico de Mulheres, por Emma Goldman | DOWNLOAD
* Casamento e Amor, por Emma Goldman | DOWNLOAD
* A Tragédia da Emancipação Feminina, por Emma Goldman | DOWNLOAD
* Anarquia e a Questão do Sexo, por Emma Goldman | DOWNLOAD
* La Palabra Como Arma (espanhol), por Emma Goldman | DOWNLOAD
Emma Goldman
* por Mabel Dias
(publicado em Mulheres Anarquistas: Um Resgate de Uma História Pouco Contada, volume 1)
Emma morava com os pais em São Petersburgo, Rússia, e se dedicava bastante aos estudos. De família judia, o pai queria que ela largasse os estudos para se casar, mas ela relutou. Em 1881, o czar Alexandre II é assassinado e uma grande turbulência toma conta da cidade de São Petersburgo, e então os Goldman fogem para outra cidade.
Nessa época, a repressão atinge duramente os judeus. E nesse clima de opressão, nasce o anarquismo russo, fruto da revolta de estudantes, operários e camponeses contra o despotismo dos czares.
As leituras colocaram Emma em contato com o pensamento niilista e os personagens de Turgueniev, em Pais e Filhos, e de Tchernichevski em Que fazer?, mas ela teve que parar os estudos para começar a trabalhar como costureira, ajudando nas despesas familiares. E quando a irmã Helena decidiu juntar-se a outra irmã nos Estados Unidos, Emma foi junto com ela, em dezembro de 1885. Foi lá que ela começou a envolver-se com o anarquismo.
Em Rochester, acompanhou as lutas operárias de reivindicação das oito horas de trabalho, que resultaram no enforcamento de quatro anarquistas em Chicago. Teve contato também com Joana Grei, J. Most e Voltarine de Cleyre.
Ao se mudar para Nova York, é apresentada ao anarquista russo Alexandre Berkman (Sacha), que será seu companheiro de ações e no amor. Emma já vivia o ideal de uma sociedade natural não limitada pelas leis dos homens, defendia um anarquismo sem regras e que para a revolução não havia receituário.
Ela fez uma excursão por alguns países com outro anarquista, Johan Most, e quando volta para os EUA assiste a explosão de uma greve nas fábricas de confecções. Tenta convencer as companheiras a participarem na greve e passa a organizar comícios, concertos e bailes.
Ao lado de Berkman, Fedya e as irmãs Mink, que a hospedaram quando ela chegou à Nova Iorque, formou uma comunidade e montou uma cooperativa de costura. Mas a cooperativa se desfez, Emma e Sacha voltam para Nova Iorque e juntam-se ao grupo Die Autonomie.
Berkman, Emma e Fedya ainda tentam um novo “empreendimento” – um estúdio de fotografias em Massachusets – que também não dá resultado. Emma passa a trabalhar como garçonete, sendo seus lucros destinados a financiar a volta de Sacha à Rússia.
Mas, em maio de 1892, perto de Pittisburg, explode um conflito entre os operários e o magnata do aço Andrew
Carneggie, que se recusava a aceitar as reivindicações dos operários e colocou na direção de sua empresa um especialista em repressão, Henry Frick. Sacha e Emma ficam sabendo disso e se organizam para realizar um atentado contra Frick.
Emma chegou a se prostituir para conseguir dinheiro para comprar as armas, porém o atentado não deu certo. Frick sobreviveu, Sacha foi preso e condenado a 22 anos de prisão. Emma não foi formalmente envolvida no processo do atentado, mas passou a ser vigiada.
Em 1893, foi acusada de incitar a desordem durante um movimento grevista, sendo presa e condenada a um ano de prisão em Blackwells Island. Libertada, conheceu o revolucionário austríaco Ed Brady, com quem passa a morar, mas Sacha continua sendo o centro de suas preocupações. Emma Goldman foi presa diversas vezes e teve que viver no anonimato, adotando o pseudônimo de Miss E. G. Smith. Depois de solta, ela começa a trabalhar como enfermeira, se aperfeiçoando em Viena, e quando de lá volta, passa a exercer a profissão de parteira, entrando em casas miseráveis e vendo de perto a submissão das mulheres na família, deparando-se com a tragédia da gravidez forçada.
O feminismo de Emma é bem atual na medida em que rejeita a armadilha de restringir a opressão das mulheres a uma questão de Estado, e ataca seus fundamentos nas práticas da sociedade, na sexualidade – “a principal arma da sociedade contra as mulheres” – na divisão do trabalho e na reprodução familiar.
Emma decidiu-se por não ser mãe, preferia dedicar-se integralmente à luta anarquista, pois observava que os homens poderiam ser pais sem renunciar à revolução e a liberdade, mas a situação para as mulheres era bem diferente.
Em 1900, de passagem por Paris, assistiu ao primeiro congresso neomalthusiano e tratou de informar-se sobre métodos contraceptivos. A partir daí, ela passa a realizar algumas conferências sobre este tema, entre elas, estão “O controle da natalidade” e “O direito da criança a não nascer”.
Em 1906, ela realiza um velho sonho, a produção da revista Mother Earth. Um ano depois, Berkman foi solto e passa a assumir a direção da revista.
Aconteciam crises sociais em 1907-08 e dela resultaram greves, agitações operárias, organização de trabalhadores em sindicatos, e Emma e Sacha procuravam se envolver em todas estas atividades.
Em uma das conferências que fez, Emma conheceu o médico Ben Reitman, com quem se envolveu amorosamente. Emma era uma defensora do amor livre, mas com Reitman, ela não conseguiu ter um relacionamento aberto, chegando até a segui-lo quando o viu conversando com outra mulher. Viveram juntos por quase 10 anos, até que a relação se desgastou devido a uma série de fatores que envolveram a mãe de Reitman, os ciúmes de Emma e os amigos dela, que não gostavam dele.
Com a entrada dos Estados Unidos na guerra, em 1917, foi desencadeada uma onda patriótica e militarista no país, e Emma e Berkman participaram então do movimento contra o alistamento militar. Foram presos, julgados e libertados sob fiança, para em seguida – já que havia uma perseguição por parte do FBI contra @s anarquistas e socialistas que lutavam contra o militarismo e a violência do Estado – serem deportad@s, na madrugada de 21 de dezembro de 1919, para a Rússia.
Ao chegar à Rússia, depararam-se com a Revolução Russa, mas, pouco a pouco, foram descobrindo as grandezas e misérias da grande revolução.
A Tcheca (polícia política), sob ordens do governo bolchevique, assassinava aquel@s que não concordavam com as medidas que eram decididas de forma centralizadora por Lênin e seus comandados, em nome da ditadura do proletariado. Muit@s anarquistas e socialistas revolucionári@s foram pres@s.
Emma e Sacha viajaram por quase toda a Rússia, trabalhando como interpretes para visitantes estrangeiros, organizaram uma caravana para coletar documentos para o Museu da Revolução, e Emma ofereceu-se para prestar também seus serviços como enfermeira.
Mas a destruição da cidade de Kronstadt pelo governo bolchevique foi o ponto de ruptura de Emma e Sacha, e de tod@s @s anarquistas que apoiaram a revolução.
Emma chegou a conversar com Lenin sobre as impressões que tinha de como estava sendo conduzida a revolução – repressão aos dissidentes, desigualdades
na NEP, autoritarismo, centralização, uma “luta mortal” pela consolidação da ditadura do proletariado, e assim, as solicitações d@s anarquistas não foram atendidas. O governo bolchevique decidiu extraditar alguns/mas pres@s anarquistas, Emma e Sacha solicitaram passaportes, viajaram para Riga e em seguida para Estocolmo. Ela chegou a dizer sobre a Revolução Russa:
“minha idéia sobre a revolução não é a de um extermínio contínuo das dissidências políticas… a vida de cada indivíduo é importante e não pode ser aviltada e degradada como se fora um autômato. Essa é a minha contradição principal com o Estado comunista”.
Os anos que se seguiram, um interminável exílio, foram marcados pelas dificuldades com as autoridades de vários países, problemas financeiros e isolamento cada vez que tentava transmitir as angústias de sua experiência na Rússia.
Em 1935, completou 65 anos, vivendo-os na ilha de Saint Tropez, na França, onde escreveu suas memórias, que foram revisadas por Sacha, que pouco depois se suicidou, pois não suportava as dores das duas operações que sofreu.
Após a morte de Sacha, Emma seguiu para a Espanha, apoiando a Confederação Nacional do Trabalho (CNT) e a Federação Anarquista Ibérica (FAI), envolveu-se na luta d@s anarquistas espanhóis, mas fez algumas críticas aos anarquistas na Revolução espanhola, apontando-lhes os efeitos negativos da participação no aparelho de governo (caso de Federica Montseny) e da aliança com os comunistas. De volta a Inglaterra, passa a divulgar a CNT e a FAI por lá.
Em 17 de fevereiro de 1940, a incansável e guerreira Emma Goldman sofreu um derrame, falecendo dois meses depois, no mesmo ano.
“O direito a voto, a igualdade civil, podem ser reivindicações justas, mas a emancipação real não começa nem nas urnas nem nos tribunais. Começa na alma de cada mulher.”
“Os 3 fantasmas que acorrentam homens e mulheres: a religião que nos domina a mente, a propriedade privada que nos faz escravos e o governo que nos oprime”
4.5