Sobre a sessão Rompendo o Ciclo!

Agressões e abusos machistas em movimentos sociais sempre aconteceram e não são algo novo. Por maior que seja nossas ilusões quanto à “perfeição” de nossos movimentos, fato é que movimentos sociais não são bolhas à parte do meio social em que vivemos, e apesar dos belos discursos, muitas atitudes machistas e misóginas persistem no cotidiano das lutas. São inúmeros os relatos de mulheres que sofreram agressões físicas e psicológicas, estupros, assédios e abusos de diversos tipos. A cada dia novas denúncias surgem, e talvez o que tenha de certa forma mudado na atualidade é que, bem recentemente, estas denúncias passaram a ter um pouco mais de repercussão e apoio, muito embora ainda sejam frequentes as tentativas de silenciamento ou manifestações de descaso, omissão ou conivência.

A falta de apoio e descrédito dos relatos de sobreviventes de agressão fez muitas vezes com que mulheres se calassem. E para que as denúncias de violência machista ganhassem mais força e visibilidade dentro desta questão, foi preciso mais do que simplesmente escrever, falar, ou mesmo gritar. Foi preciso que as mulheres abrissem as portas com as próprias forças, procurando táticas diversas de ação feminista e empoderamento que colocassem estes abusos em evidência. Táticas como o escracho público, por exemplo, tão criticado por algumas pessoas, mas que foram e seguem sendo de extrema necessidade para que mulheres tenham suas vozes ouvidas.

E o tempo passou, e mais casos de agressão machista foram denunciados, demonstrando que abusos seguem acontecendo cotidianamente, muitas vezes protagonizados por pessoas que estão mais perto do que poderíamos um dia imaginar. Podem ser amigos próximos, pessoas do seu coletivo, pessoas com quem você milita ou compartilha os mesmos espaços, enfim, pessoas da mesma comunidade libertária – aquela que você imaginava estar livre de coisas como essa. E se hoje as denúncias de casos de agressão machista geram respostas como cartas de apoio, ações práticas de solidariedade às sobreviventes e reflexões coletivas,  ainda assim é quase sempre perceptível uma atmosfera geral de choque e inércia, o costumeiro “não saber como lidar”. Para além das ações feministas e de mulheres que sentem na pele as agressões, ainda se faz muito pouco em questões práticas quando uma agressão acontece, e faz-se menos ainda para colocar em ação e reflexão formas concretas de evitar que novos casos venham a acontecer no futuro. Nesse contexto mais amplo, a ação coletiva e envolvimento direto é mínima.

Lendo e relendo materiais publicados em outros países sobre casos de agressão machista em movimentos sociais, anarquistas e punks, podemos nos deparar com inúmeras reflexões e relatos sobre táticas de apoio à sobreviventes, processos de responsabilização de agressores, ações práticas e oficinas sobre relações baseadas em consentimento e respeito, etc. Obviamente são casos que aconteceram em diferentes contextos e tem suas próprias especificidades; muitas vezes, os casos relatados oferecem táticas divergentes entre si, ou que são inviáveis em outros contextos; mas num contexto geral, todas essas iniciativas e experiências podem agregar muito para nossas próprias reflexões e ações práticas de combate às agressões machistas, para que encontremos nossos próprios caminhos e ampliemos nosso leque de opções. Agir coletivamente contra as agressões é preciso, e criar mecanismos para evitar que novas agressões ocorram, se faz urgente e necessário. Assim, para contribuir com as discussões coletivas, esse blog se propõe a publicar artigos e traduções que reflitam especificamente sobre essas questões.

ROMPER COM O CICLO DA VIOLÊNCIA MACHISTA É UMA URGÊNCIA!